Carregando...
Carregando...

Pré-venda - A descolonização da questão negra: A fundação Ford e uma nova pedagogia da hegemonia? Por Luciano da Silva Barboza

R$ 70,00
R$ 50,00
Economize 29%
Código: 82

Descrição do produto

ENTREGAS DE 1 A 6 DE DEZEMBRO

Sumário

Agradecimentos, 7

Prefácio - por Sônia Lucio R. de Lima, 9

Apresentação - por Rodrigo Lamosa, 13

Um diário desta pesquisa de campo, 17

Introdução, 21

Capítulo 1 - A Nova Pedagogia da Hegemonia: para além da aparência, 33

Capítulo 2 - A descolonização da questão negra e a Fundação Ford, 91

Capítulo 3 - A Fundação Ford, seus intelectuais orgânicos e a questão negra, 145

Conclusão, 205

Referências, 209


-Apresentação

Rodrigo Lamosa


Estamos diante de uma quadra histórica marcada pela crise do capital e por seus desdobramentos sociais, políticos, culturais, ambientais e sanitários, dentre
outros, que nos colocam diante de uma conjuntura marcada pelo acirramento da luta de classes. No interior da classe dominante, identifica-se, por um lado, a
difusão de organizações e projetos cujo objetivo é responder a esta crise a partir damanutenção da hegemonia burguesa, realizada no âmbito da sociedade civil por
meio da penetração da ideologia neoliberal no senso comum. Por outro lado, os elementos constituintes da aparelhagem coercitiva, fundamentais na reprodução de uma formação social marcada pelo racismo estrutural, continuam sendo a garantia de uma ordem característica no capitalismo dependente. Mais do que em outros períodos históricos, consenso e coerção são parte de uma mesma unidade.

Este exercício de uma dominação forjada em uma hegemonia encouraçada de coerção, numa tradução gramsciana, não é novo e está na base do processo histórico de ampliação do Estado. Nas formações sociais características do capitalismo dependente, entretanto, esta ampliação nunca significou a incorporação ativa das pautas históricas dos trabalhadores. As revoluções burguesas realizadas tardiamente se notabilizaram por processos históricos em que a construção do
moderno não significou a dissolução do arcaico. A ampliação do Estado, nestes casos, não significou uma socialização universal da política, mas se estruturou em
condições estruturalmente desiguais, em que o racismo é parte fundamental da formação social que veio a se constituir.

O trabalho de pesquisa que se materializa neste livro é parte fundamental de um esforço coletivo que vem tentando compreender a hegemonia burguesa em
uma sociedade cujo Estado se ampliou de forma seletiva e a partir da repressão e espoliação dos trabalhadores. Por aqui, o avanço do capitalismo, inclusive dos
setores mais modernos, se realizou a partir da manutenção de uma estrutura social pautada na heteronomia cultural, na superexploração dos trabalhadores e no ra-
cismo estrutural. Este processo histórico foi analisado por um amplo conjunto de intelectuais marxistas, que formam as referências teóricas presentes neste livro. O
presente livro se insere, portanto, numa trajetória que não se iniciou recentemente tendo sido construída a muitas mãos por pesquisadoras e pesquisadores, mas que
certamente será impactada por esta obra.

O autor se debruça sobre a Fundação Ford para realizar uma importante análise crítica sobre a assimilação da questão racial por parte dos grupos dominantes,sobretudo em sua ação na formação de quadros intelectuais. O objetivo do autor foi compreender a atuação da Fundação Ford frente à questão racial e sua disputa sobre
os sentidos sociais, políticos e ideológicos da luta antirracista no Brasil, sobretudo a partir do processo de redemocratização. A partir de uma pesquisa documental e uma
extensa e rigorosa revisão da literatura, o autor construiu um trabalho de investigação que refez o tortuoso e contraditório movimento operado pela fundação e seus intelectuais diante da questão racial.

A tarefa proposta pelo autor deste livro, realizada radicalmente no sentido proposto pelo velho Marx, ou seja, indo às raízes da questão, se materializa a partir da crí-
tica a duas matrizes teóricas presentes nas formulações "fordistas": o multiculturalismo e o pensamento decolonial. É importante assinalar que a crítica formulada pelo autor situa este trabalho no campo marxista, com importante contribuição do referencialteórico gramsciano, sobretudo na compreensão do Estado em seu sentido integral e, sobretudo, da sociedade civil. O trabalho se situa, portanto, distante de uma concepção que formula a sociedade civil como o reino da democracia ativa, do empreendedorismo e da cidadania ativa. Longe disso, a sociedade civil é compreendida como terreno das lutas sociais, onde as classes elaboram, por meio de seus aparelhos privados de hegemonia e seus intelectuais, sua concepção de mundo, difundem seus valores e defendem seus interesses particulares, apresentando-os como universais.

Neste livro, o autor analisa criticamente o movimento que tenta descolar o racismo da exploração do capital. Neste sentido, identifica que os intelectuais
da fundação operam uma ressignificação do racismo, compatibilizando a luta antirracista e o liberalismo. Ao se contrapor a essa tendência, o autor deste livrose defronta com uma difícil tarefa de compreender as disputas travadas no inte-rior da sociedade e, particularmente, de entender como elas permeiam e são parte da luta antirracista no Brasil. No mesmo sentido, o autor analisa criticamente as tentativas de situar o racismo como parte da herança colonial que persistiria na contemporaneidade. Assim, reafirma que o racismo se constitui na formação social brasileira atual como elemento estruturante de uma formação social dependente, que se revitaliza nas formas mais modernas assumidas pelo capital.

Um aspecto a se destacar sobre este trabalho é que ele é publicado numa conjuntura marcada pelo crescimento da luta antirracista no mundo, sobretudo
após 2020. As lutas étnico-raciais têm protagonizado importantes movimentos e levantes em diferentes regiões do mundo. A emergência da luta antirracista
na atual quadra histórica é uma resposta das frações mais espoliadas da classe trabalhadora, aquelas sobre as quais recaem de forma ainda mais grave a violên-
cia da dominação burguesa. O autor deste livro, ao elaborar a crítica marxista às formulações dos intelectuais da Fundação Ford, se situa nestas lutas, incor-
porando os elementos que a constituem, ao mesmo tempo em que se diferencia dos postulados reformistas.


O lançamento deste livro, portanto, se insere num contexto fundamental. A consciência disto, por parte do autor, é um desdobramento da própria cons-
ciência de classe e étnico-racial daquele que escreveu a obra. Aqui não me refiro a uma consciência num sentido idealista, mas como expressão de uma história
de vida militante e que se realiza em um trabalho investigativo que mobiliza a experiência intelectual na universidade, no sindicato, na comunidade, no parti-
do, na família e em todas as relações que constituem o autor deste livro. Este livro carrega, portanto, a história de uma luta. De uma luta que forjou o autor, mas que o antecede e o ultrapassa. É parte da história de um povo que se constituiu e se constitui nas lutas, na resistência, nas formas coletivas de organizaçãoda vida. A história de mulheres e homens negros que construíram este país e nele foram explorados numa jornada marcada pelo genocídio, pelo estupro, peltráfico humano. Diante da universidade, o autor deste livro trouxe consigo todas estas marcas.

O livro está dividido em três capítulos. No primeiro capítulo, o autorapresenta sob o título "A Nova Pedagogia da Hegemonia: para além da aparên-
cia" os pressupostos teóricos da investigação realizada e uma análise sócio-histórica da recomposição burguesa no interior da supremacia neoliberal. A pororoca social-liberal da "direita para o social" e da "esquerda para o capital" é analisada tendo por referência o papel realizado pela Fundação Ford, seja como parte da
sociabilidade burguesa forjada na difusão de Aparelhos Privados de Hegemonia, seja para destacar o movimento de "transformismo" pelo qual alguns setores da
esquerda guinaram nas últimas décadas.

Esta pororoca, desgastada, sobretudo, a partir da crise de 2008, teve efeitos gravíssimos nos últimos anos. De um lado, setores significativos da direita, incluindo elementos religiosos associados a "teologia da prosperidade", se deslocaram na direção do fascismo. A polarização política, condição histórica frente ao agravamento da crise do Capital, tem sido o recurso que culminou no governo fascista do presidente Jair Bolsonaro e na construção do golpe de

Estado, realizado com o apoio financeiro e político de setores associados a diferentes frações burguesas. Por outro lado, os mesmos segmentos da esquerda
convertidos ao social-liberalismo parecem ainda crer que a direção política de luta diante da atual conjuntura segue sendo a concertação nacional.
No segundo capítulo, sob o título "A Descolonização da Questão Negra e a Fundação Ford", o autor apresenta o referencial teórico que fundamenta sua análise sobre a "questão racial", contextualiza a atuação histórica dos Movimentos

Negros e sua relação com a Fundação Ford. Neste capítulo, o autor faz um precioso diálogo teórico com um conjunto de autores marxistas negros: Lélia Gonza-
lez, Cedric James Robinson, Aimé Césaire, Frantz Fanon, Sílvio Almeida, Clóvis Moura, dentre outros. Numa época em que muito se ouve que o marxismo sedesenvolveu no decorrer do século XX de costas para a "questão racial", o autor recupera um conjunto absolutamente relevante de intelectuais que formam uma
parte fundamental da história do pensamento marxista. O capítulo é concluído com uma análise sócio-histórica da Fundação Ford e sua política internacional,
incluindo a América Latina.

No terceiro capítulo, sob o título "A Fundação Ford, seus intelectuais orgânicos e a questão negra", o autor realiza, a partir de uma extensa revisão de litera-
tura, uma análise sobre a Fundação Ford, a formação de seus intelectuais orgânicos e sua atuação frente à "questão racial". A análise identifica o entrelaçamento entre
financiamento, pesquisa e articulação política que penetra a educação brasileira por meio de convênios e parcerias que formam linhas de fomento acadêmico. O
capítulo é concluído com uma análise sobre a direção política da fundação, a partir de uma investigação que tomou por objeto a produção intelectual dos dirigentes
da organização, sobretudo aquela vinculada à "questão racial". Assim se estrutura este livro que certamente contribuirá para disputar ossentidos da luta. Como disse Marx, "a arma da crítica não pode substituir a crítica das armas", mas em certas condições históricas as ideias "se transformam em força material". É este o sentido deste livro: travar a batalha das ideias. Num movimento que articula o "pessimismo da razão com o otimismo da vontade", este livro é um chamado à reflexão e uma convocação à luta.

Produtos em Ofertas