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Foto 1 - Junho e os dez anos que abalaram o Brasil (2013-2023). Orgs: Carolina Freitas, Douglas Barros e Felipe Demier

Junho e os dez anos que abalaram o Brasil (2013-2023). Orgs: Carolina Freitas, Douglas Barros e Felipe Demier

R$ 55,00
Código: 49

Descrição do produto

Junho e os dez anos que abalaram o Brasil (2013-2023)

Organizadores:
Carolina Freitas
Douglas Barros
Felipe Demier


Sumário

Apresentação - Carolina Freitas, Douglas Barros e Felipe Demier

Junho e a luta de classes no Brasil da última década - Marcelo Badaró Mattos

Junho não acabou - Douglas Rodrigues Barros

Houve, uma vez, dois Junhos: luta por direitos, anticorrupção e antipolítica em 2013 - Felipe Demier

Após Junho de 2013: conservadorismo e impactos para a política social no Brasil - Elaine Rossetti Behring

Junho de 2013: temporalidade, conflito e as interpretações sobre o período - Rafael B. Vieira

Junho de 2013 como marco do avanço da direita: uma falácia insustentável - Gilberto Calil

Junho pra toda obra: evolução da conjuntura e leituras petistas de junho de 2013 - Marco Marques Pestana

Junho de 2013 pariu o bolsonarismo? Demian Melo

Dos protestos de 2013 ao neofascismo no poder: como se comportaram politicamente os agentes do campo musical brasileiro - Romulo Mattos

Identidades, representação política e neoliberalismo no contexto pós 2013 - Douglas Santos Alves

Da esperança à experiência: relatos sobre uma ocupação de moradia no pós-Junho de 2013 - Irene Maestro Sarrión dos Santos Guimarães

Da cidade na encruzilhada às encruzilhadas políticas do capital: transporte, mobilidade, rua, catraca e poder na cidade de São Paulo - Tiaraju Pablo D Andrea e Sandro Barbosa de Oliveira

A criminalização de Junho de 2013 em nome da democracia - Rejane Carolina Hoeveler

Junho e além: novas implicações urbanas para a luta de classes no Brasil - Carolina Freitas

Apresentação

Como o tal raio em dia de céu azul - ou melhor, como o clarão das bombas numa avenida acinzentada -, os acontecimentos do ano de 2013 surpreenderam a todos e fizeram com que um de seus meses adquirisse, desde então, a inicial maiúscula: Junho. De lá para cá, nessa década que nos separa daquele inverno quente, as tendências e latências contidas naquelas jornadas se desenvolveram de um modo complexo, vertebrado de contradições e mesmo de antagonismos radicais. A afirmação do processo, isto é, a luta por direitos e contra a repressão, e a sua negação, a luta contra a corrupção e por mais repressão, em suma, a afirmação e a negação do processo, seguiram em embate, mas a síntese daí produzida, em especial desde o golpe de 2016 e da emergência do neofascismo bolsonarista, foi inegavelmente reacionária. E aquele mesmo Brasil agora também é outro.


Marx disse em algum lugar que há momentos em que o tempo histórico se acelera, os acontecimentos se precipitam e, em meses, ocorrem mais fatos qualitativos do que haviam ocorrido em anos de aparente paralisia temporal, de estagnação política. O Brasil de dez anos de concertação e paz social - que nunca teve nada de pacífica, por sinal - se viu em meio a conflitos urbanos nas grandes capitais que, levando ao chão o véu da conciliação entre capital e trabalho, expuseram o desigual corpo nu da nação. Uma espécie de avesso da hegemonia às avessas - porque és o avesso, do avesso, do avesso?


A partir daí, os tempos se aceleraram e a luta de classes ganhou contornos ao mesmo tempo mais nítidos e irascíveis. Um golpe de Estado depôs, por dentro do próprio regime, um governo eleito, jogando de imediato, no lixo, 54,5 milhões de votos, o que abriu caminho para que a imundície dos bueiros da história nacional emergisse e se acumulasse na jusante de um rio que corria, com pressa, para um mar de barbárie. Muitos e muitos nadaram contra essa corrente. Centenas de milhares se afogaram nela. Por falta de ar. Nos hospitais em Manaus, aqui e acolá. Nas favelas, na Amazônia, no Araguaia, na Baixada Fluminense, muita bala comeu solta, muita gente não teve o que comer. As tendências autocráticas da burguesia brasileira se intensificaram, a democracia liberal passou a viver em constante ameaça por conta da ação antidemocrática de seus próprios liberais e, cinco anos depois de Junho, o Estado brasileiro foi entregue para a lumpem-burguesia do nosso esgoto histórico.


O objetivo deste livro, organizado com a mesma pressa que tivemos ao sair às ruas naquela primeira tarde de 6 de Junho de 2013, é oferecer elementos para uma análise crítica do processo histórico da luta de classes nos últimos dez anos no Brasil. Nesse sentido, as páginas que se seguem a partir daqui lançam luz sobre diversas temáticas e determinações tanto de Junho como de seus desdobramentos posteriores - tanto da revolta como da sua própria reviravolta. Assim, interpretações originais sobre Junho; críticas às suas versões expiatórias; análises sobre a ofensiva conservadora, contrarreformista e neofascista desde então; a dimensão urbana e territorial dos conflitos de classe e suas pautas naquelas jornadas, como o transporte e a moradia; e os dilemas das identidades e da indústria cultural no Brasil são algumas questões as quais este livro se preocupa em tratar - pois, tal qual o sertão, Junho, ainda hoje, parece estar violentamente em todo lugar. Seja em como ele começou, seja da forma como ele acabou, ou, ainda, naquilo que o engendrou.


Dez anos depois, viver - e lutar - continua sendo muito perigoso. Junho acabou, mas seus dilemas seguem nos atravessando nas veredas ali abertas. Por isso este livro.

Os organizadores
Maio de 2023

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